sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O CEJMS no festejo dos Siriaco


Chegada da procissão de barcos

Uma manhã chuvosa interrompe os ensolarados dias que se sucederam até 07 de setembro. É manhã, e o dia que sucede ao aniversário da Independência do Brasil traz com a chuva uma procissão de barcos que sobem o curso do rio Araguaia à localidade conhecida por todos nós como Siriaco – é o festejo de Nossa Senhora de Nazaré, que mais uma vez se realiza às margens do Araguaia, reunindo uma grande família e seus amigos que chegaram a esta região ainda nos anos 1920.

O acompanhamento da realização do festejo neste ano foi uma iniciativa da aluna Iraene, da 2ª série do ensino médio do CEJMS, que pretende reunir informações sobre a religião, a cultura e o valor turístico da região do extremo Bico do Papagaio com o objetivo de elaborar um projeto com o qual possa concorrer ao programa Jovem Deputado do ano que vem. Sua atitude é espelhada no aluno Ian Mota, da 3ª série “A”, escolhido jovem deputado através de um projeto que tratava da importância da ética aplicada à tecnologia. Acompanharam a aluna Iraene o aluno e deputado jovem Ian Mota, o professor de História do CEJMS, Antonio Marcos, e o senhor Juvenal, que há anos auxilia a escola em algumas atividades.
Os alunos Ian Mota e Iraene
A família Siriaco chegou a essa porção do Bico nos idos de 1920, sendo a atual geração realizadora da festa a terceira, que se refere aos pioneiros como avós. Eles são oriundos da Terra Indígena Mãe Maria, localizada no município de Bom Jesus do Tocantins, no estado do Pará, homologada em 20 de agosto de 1986, pelo então presidente José Sarney.[1] Os avós teriam vindo pra cá atraídos pelas matas de feição amazônica, que abrigam sob suas folhagens terras férteis para a agricultura de subsistência. A cidade de Marabá, posto de intercâmbio dessa família, distava da região dois dias de viagem de canoa. Lá se vendiam os produtos cultivados nesta porção do antigo Goiás para se adquirirem produtos próprios da cidade paraense. Aqui se caçava, pescava, cultivava a mandioca e o arroz, atividades para as quais estavam também dispostas as mulheres, que também quebravam coco babaçu.

Segundo uma entrevistada, a festa teve origem numa circunstância relacionada a um parto e, contando apenas com canoas no início, hoje a procissão dispõe de inúmeros barcos enfeitados que se aproximam ao som de fogos. Ao aportarem nas terras tocantinenses, são recebidos com faixas destinadas a saudarem especialmente a homenageada, Nossa Senhora de Nazaré. São realizadas orações fervorosas à padroeira, próxima de cuja imagem se posicionam os juízes, escolhidos anualmente para cada edição do festejo.
A padroeira e os juízes
A família Siriaco, hoje dispersa, habita a sede do município de Esperantina, Marabá e outras localidades. Negros de feições indígenas, sua trajetória nesta região os torna também importantes do ponto de vista da reconstituição histórica dos aspectos de formação em geral do próprio extremo Bico do Papagaio. Por estarem aqui há quase um século, puderam presenciar, inclusive nas últimas décadas do século XX, eventos como a Guerrilha do Araguaia e a presença de grileiros que pretendiam apossar-se dessas terras. No que diz respeito à guerrilha, puderam abrigar aqui famílias assustadas com os eventos, com medo da polícia ou dos “terroristas”. A menção inocente a terroristas pode dar indícios de como uma mentalidade avessa à esquerda comunista foi construída durante a ditadura militar para impedir que os populares lhes fossem simpatizantes. Sobre os grileiros, mencionam os mesmos nomes já ouvidos de outros antigos moradores que aterrorizaram a região fazendo pressão para lhes tomarem as terras.

Essas informações sobre os Siriaco vão juntar-se a várias outras sobre famílias da região e os aspectos culturais, religiosos e sociais relacionados a elas, para comporem uma proposta de itinerário turístico, cultural e religioso a ser elaborada pela aluna Iraene.

Boa sorte a ela.

Texto: Francisco Sulo.
Imagens: Profº Antonio Marcos e Ian Mota.

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